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Atacante foi importante em momentos decisivos, viveu baixas, saiu, mas voltou para ser, de novo, importante. O fim merecia ser diferente, mas o choro final, sem dúvida, é de satisfação

Muitos dos garotos brasileiros sonham em ser jogadores de futebol. Poucos têm o privilégio. Rafael Sobis foi um deles. E olha que nunca teve esse sonho. Por isso, inclusive, sempre gostou de ser chamado de atleta. Por isso, talvez, sempre tenha sido um profissional, na concepção da palavra. E assim foi até o último dia vestindo a camisa do Cruzeiro.

A despedida era esperada, mas não no dia 9 de novembro. Há meses, Sobis havia dito que pretendia parar no fim deste ano. Com três jogos do Cruzeiro pela frente, ele se despediu. Mas, faz sentido o momento. O objetivo (ainda que não o estabelecido no início do ano) foi cumprido, como em todos os anos em que vestiu a camisa estrelada.

– Obrigado por todos os ensinamentos, obrigado Cruzeiro, obrigado torcida e vida longa. Infelizmente não consegui deixar o clube na primeira divisão que era um dos meus principais objetivos, eu tentei. Como falei, a idade chega, nem sempre o corpo aguenta, mas eu tentei até onde eu pude. Só desejo vida longa ao clube. – Rafael Sóbis

 

Dizer que foi uma relação de amor e ódio é exagero. Mas foi de tapas e beijos. Beijos de amor, mas não tapas de ódio. Rafael Sobis foi namoro frustrado do Cruzeiro em algumas janelas de transferências, mas um casamento que deu muito certo a partir de 2016.

Foi o grande nome contratado pelo Cruzeiro, em junho daquele ano, após se tornar ídolo no Tigres, do México. Ao lado de Ramón Ábila, foi importantíssimo para ajudar Mano Menezes a livrar o time da então inédita queda à Série B. Deixou de ser um segundo atacante, de finalizações perigosas, para ser um ponta, que, por vezes, se desgastava sendo “assistente de lateral”. E fez bem a função.

Em 2017, passou a ser a referência no ataque e foi igualmente importante. Já não tinha o vigor físico dos tempos de Internacional, mas disputou 50 partidas na temporada. Um dos maiores números da carreira. Apesar de críticas do torcedor naquele ano, foi o artilheiro da Copa do Brasil, com seis gols. O primeiro título com a camisa do Cruzeiro. O pentacampeonato do clube na competição.

Rafael Sobis fez 176 jogos com a camisa do Cruzeiro — Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro

Rafael Sobis fez 176 jogos com a camisa do Cruzeiro — Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro

Tinha mais um ano de contrato. E foi mais um ano vencedor. Conquistou o Mineiro – sendo uma das novidades de Mano Menezes para a grande final, contra o Atlético-MG – e também a Copa do Brasil. Perdeu espaço e saiu no final do ano. Que o Sobis, amante do Rock’n Roll, me perdoe, mas vou usar referência do axé “Não vou chorar”, que ganhou fama com a banda Chiclete com Banana. Um trecho diz: “Valeu, foi bom, adeus”. Esse era o sentimento do torcedor e também do jogador.

Mas o amor não tinha chegado ao fim, diferente do que diz a letra. Rafael Sobis foi ao Inter, sua casa e morada desde a infância, passou pelo Ceará, mas reatou com o Cruzeiro quatro anos depois da primeira vez. Em 2020, no entanto, com uma situação muito pior. De novo lutando contra o rebaixamento, mas agora à Série C. A importância foi a mesma. Decisivo, ajudou o time a se manter na competição.

O ano de 2021 foi novamente complicado para o clube. E também para Rafael Sobis. Poucos se salvaram. Mas o atacante, ainda que em campo não tenha chegado perto de ser o que foi um dia, foi importante demais internamente. Um líder em meio ao caos.

As linhas finais da história de Rafael Sobis com a camisa do Cruzeiro foram tortuosas, certamente muito diferentes do que ele planejou como roteiro. Mas em nada atrapalharam a história dele no clube. História de 176 páginas. Pelo contrário, a vontade de retornar à Toca e a grandeza de entender que chegou a hora do adeus o deixaram ainda mais entre as páginas heroicas e imortais do Cruzeiro.

Pena, para o clube e para você, Sobis, que o final não tenha sido com o acesso. Mas, como diz a música: “Valeu, foi bom”. Bom demais. Para os dois e para o torcedor. E o choro no gramado do Mineirão, sem dúvida, teve mais de dever cumprido do que de decepção.

Por Guilherme Macedo

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