Volta de Alexandre Mattos ao Cruzeiro gera situação inusitada no ‘caso Vitor Roque’

O retorno de Alexandre Mattos ao Cruzeiro para comandar o futebol da Sociedade Anônima do Futebol, na gestão de Pedro Lourenço, gera uma situação inusitada na disputa judicial entre o clube mineiro e o Athletico quanto à transferência de Vitor Roque, em 2022.

O executivo muda de lado numa batalha na Justiça iniciada há dois anos.

À época, Mattos era o CEO de Negócios do Futebol do Furacão e efetuou a contratação de Vitor Roque por R$ 24 milhões, multa rescisória baseada no salário de R$ 12 mil que o jovem, então com 17 anos, recebia na Toca da Raposa II.

Alexandre Mattos ao lado de Vitor Roque na época de sua chegada ao Athletico

Instagram/reprodução

O valor foi depositado em juízo e deu início a uma contestação da SAF do Cruzeiro na Justiça do Trabalho e na Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD), órgão independente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que resolve questões entre clubes e atletas de futebol.

Na CNRD, o Cruzeiro SAF tenta receber R$ 56 milhões pela transferência de Vitor Roque. O clube alega ter homologado um reajuste salarial para o jogador antes da proposta do Athletico. No entendimento da SAF, então gerida por Ronaldo, a multa de R$ 24 milhões foi subestimada por se basear no salário de R$ 12 mil.

Paralelamente, uma ação na Justiça do Trabalho tenta elevar de R$ 24 milhões para R$ 27 milhões o valor depositado em juízo pelo Athletico pela totalidade dos direitos econômicos de Vitor Roque.

Desses R$ 27 milhões, o Cruzeiro teria direito a 45%, percentual que detinha do atleta.

Alexandre Mattos ficou no Athletico entre janeiro de 2022 e dezembro de 2023

Fabio Wosniak/athletico.com.br

Agora, como principal responsável pelo futebol do Cruzeiro SAF na gestão de Pedro Lourenço, Alexandre Mattos terá que entrar na mesma briga, só que pelo outro lado do balcão. Ao lado do CEO Gabriel Lima e do departamento jurídico da Sociedade Anônima do Futebol, o executivo defenderá os interesses celestes.

América

Detentor de 35% dos direitos de Vitor Roque quando da transferência de Vitor Roque do Cruzeiro para o Athletico, o América não questiona na Justiça o valor da multa rescisória.

O clube fez uma negociação posterior com o Athletico, intermediada por Alexandre Mattos, para ficar com 15% de uma transferência futura de Vitor Roque. Logo, quando o jogador foi vendido ao Barcelona, em junho de 2023, o Coelho garantiu um valor milionário.

Na época da venda ao Barcelona, Mattos explicou que fez o acordo com o América para preservar o direito do clube de ter formado Vitor Roque para o futebol brasileiro. Com 14 anos, o atacante foi aliciado pelo Cruzeiro na gestão de Wagner Pires de Sá e Itair Machado.

Aquela gestão do Cruzeiro chegou a forjar uma peneira para simular que Roque estava em processo de seleção para a base celeste. Até um vídeo foi criado com essa intenção.

À Itatiaia, em 2023, quando ainda estava no Athletico, Mattos explicou o percentual do América na operação de venda de Vitor Roque ao Barcelona.

“As pessoas que estavam no Cruzeiro à época pegaram o menino no América. Retiraram o ele na calada. Fizeram uma peneira fake na Toca da Raposa I, levaram o Vitor Roque no meio de um monte de menino e contrataram um profissional para falar do Vitor Roque. Só para fingir que não estavam pegando o jogador sem ética nenhuma”, disse o executivo.

Procurado pela Itatiaia, o presidente do América SAF, Marcus Salum, disse que a disputa judicial entre Cruzeiro SAF e Athletico não interessa ao clube. “Esse assunto não nos interessa. Nosso contrato de venda não tem nada a ver com esse problema”.

Como está o andamento do caso na CNRD

Uma fonte ouvida pela Itatiaia informou que a discussão do caso Vitor Roque ainda está na etapa de apresentação de provas e não chegou à comissão final para julgamento.

Procurada, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) explicou que a CNRD é independente, logo, a entidade não se pronuncia sobre discussões em andamento.

Entenda o imbróglio

Vitor Roque começou a ser utilizado no elenco profissional do Cruzeiro em 2021, na Série B, na gestão de Sérgio Rodrigues. À época, o presidente do Cruzeiro estava rompido com André Cury.

Em 2022, quando o futebol do Cruzeiro já era gerido pela Sociedade Anônima do Futebol (SAF), André Cury iniciou conversas para melhorar o contrato de Vitor Roque. O diretor de futebol Pedro Martins não teria aceitado as condições.

Vitor Roque tinha um salário de R$ 12 mil mensais. Cury propôs um aditivo até dezembro de 2022 com salário maior para o Cruzeiro se resguardar e elevar a multa rescisória. Pedro Martins queria a prorrogação definitiva e por prazo maior, com bases inferiores às desejadas pelo agente.

Sem acordo entre Cruzeiro SAF e André Cury, Vitor Roque foi em abril de 2022 para o Athletico Paranaense, que depositou a multa de R$ 24 milhões.